Petróleo, óleos e resinas

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Desde a Revolução Industrial que o Mundo funciona com base no petróleo, o que levou ao desenvolvimento de um comércio mundial que transporta milhões de toneladas anualmente, muitas vezes em más condições de manutenção e segurança. O petróleo é actualmente a principal fonte de energia, contudo a que mais polui os ecossistemas marinhos. Apesar das inúmeras espécies que são realmente afectadas, quando se fala nas consequências do afundamento de um super-petroleiro pensa-se imediatamente na imagem de uma ave coberta de petróleo. Esta associação deve-se muito a situações que marcaram a nossa memória social, quer devido à cobertura mediática (Exxon Valdez em 1989) quer à proximidade geográfica (Prestige em 2002).  
As aves são um dos grupos mais ameaçados pela presença de petróleo, óleos, azeites, resinas, cola e outras substâncias nos oceanos devido à própria biologia do grupo. A mortalidade das aves associada a derrames de hidrocarbonetos é descrita desde o final do século XIX, e já em 1926, no Museu de História Natural esteve patente uma exposição sobre este tema e os seus impactos na vida selvagem ao longo da costa britânica.  
As aves são afectadas pelo petróleo através da contaminação corporal, ingestão e contaminação dos ovos. Quando estas substâncias aderem às penas, faz com que a ave perca a sua impermeabilização e isolamento, e a sua capacidade de flutuação e de voo. O animal ao perder a impermeabilização, perde a capacidade de termorregulação entrando em hipotermia o que resulta em morte por choque ou num aumento drástico do metabolismo para manter as condições normais de temperatura. O facto de uma ave estar hipotérmico, leva-o a arrojar nas praias, ficando incapaz de se alimentar e de hidratar, ficando ainda vulnerável ao ataque de predadores. As aves, principalmente as aquáticas e marinhas, ao perderem a sua flutuabilidade pode levá-las ao afogamento quando pousadas na água. 

  Gansos-patolas (Morus bassanus) actualmente em recuperação no RIAS 
conspurcados com nafta/petróleo

Instintivamente, a ave tentaria limpar as suas penas (preening) contudo esta acção pode levar a ingestão de substâncias nocivas à saúde do animal e provocar graves danos nos seus órgãos internos.  

Em termos de contaminação dos ovos, isso pode ocorrer através de material contaminado usado na construção dos ninhos ou pelo contacto das penas sujas com a casca do ovo. Pequenas quantidades de certos tipos de petróleo são suficientes para provocar a morte da cria, principalmente durante as fases iniciais de desenvolvimento embrionário. 
Apesar de, felizmente, nos últimos tempos não ter ocorrido eventos da magnitude dos referidos, o ingresso de aves e mamíferos petroleados em centros de recuperação situados no litoral é relativamente frequente e ocorre ao longo de todo o ano. Esta poluição difusa é ocasionada pelas lavagens ilegais de porões dos navios em alto-mar e outros pequenos derrames ilegais ou acidentais de combustíveis nos barcos. Estimativas adiantam que estas fontes poderão ser responsáveis por 80% da poluição provocada. 
Desde o início da sua actividade em Outubro de 2009 o RIAS, já recebeu sete casos de aves petroleadas: em 2009 deu entrada um papagaio-do-mar (Fratercula artica) petroleado, em 2010 deram entrada dois gansos-patolas (Morus bassanus), e em 2011 três gansos-patola (Morus bassanus) e uma garça-boieira (Bubulcus ibis). 
 Papagaio-do-mar (Fratercula artica) petroleado que ingressou no RIAS em 2009

Quando ingressa um animal petroleado num centro de recuperação os protocolos e técnicas de lavagem e tratamento estão bem definidos de uma forma geral, uma vez que há organizações internacionais especializadas neste tipo de procedimentos, que geram grande quantidade de informação útil. No entanto, torna-se sempre necessário que em cada país existam técnicos com experiência prática e material/equipamento adequados para que o tratamento deste tipo de casos seja efectuado com eficácia, no menor espaço de tempo possível. Assim, torna-se também essencial que os animais petroleados sejam encaminhados para Centros de Recuperação de Fauna o mais rápido possível para tornar os procedimentos mais eficazes e consequentemente aumente o sucesso da sua recuperação.

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2 Responses

  1. Olá Sara

    Infelizmente nem todos sobreviveram pois as aves marinhas são extremamente sensíveis e não toleram o cativeiro. A maioria dos animais que entraram conspurcados no RIAS apresentava também sintomas de debilidade e desidratação extrema o que complicou ainda mais o quadro clínico.

    Obrigado pelo teu contacto, espero ter esclarecido as tuas dúvidas.

    Até breve,
    Fábia Azevedo

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Luisa de Matos

Educação Ambiental e Divulgação​

2018 – Licenciatura em Biologia | Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa
2018 / 2024 – Guia e Monitora de Educação ambiental no EVOA
2019 – Pós-graduação em Ecologia e Gestão ambiental | Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa
2020 – Credencial de Anilhagem
2021 – Técnica de Campo em projeto de conservação de Aves Estepárias
2023 – Técnica de Falcoaria: Controlo Biológico de Fauna
2024 –  Monitora Escola da Floresta e LPN
2024 – Iniciou funções como responsável pela Sensibilização Ambiental e Divulgação do RIAS

Colaborou em diversos projetos de conservação de fauna selvagem, integrou a equipa de guias do EVOA (Espaço de Visitação e Observação de Aves do Estuário do Tejo), local onde desenvolveu outros trabalhos de monitorização da fauna. 

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