Abate a tiro ilegal

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Os animais selvagens que ocorrem em Portugal estão sujeitos a diversos factores de ameaça mas, dependendo da sua espécie, do seu tamanho, abundância, hábitos alimentares, requisitos de habitat ou até mesmo do modo como são vistos pelos seres humanos, alguns são mais vulneráveis do que outros. Estes factores de ameaça são, na sua maioria, os responsáveis pelo ingresso destas aves nos centros de recuperação. Assim sendo, as principais causas de ingresso nos centros são: cativeiro ilegal, queda do ninho, colisão com estruturas variadas, atropelamento, electrocussão, envenenamento, debilidade/desnutrição e abate a tiro.

Apesar de ser ilegal abater qualquer espécie animal protegida (Decreto-Lei nº 316/89 de 22 de Setembro, transposição para a legislação nacional da Convenção de Berna – Anexo II) e de existirem leis reguladoras dos actos de caça que estipulam quais as espécies cinegéticas (“que se podem caçar”) e respectivas épocas e meios de caça, muitas espécies protegidas e ameaçadas são ainda alvejadas de modo intencional.

Qualquer animal está sujeito a esta ameaça mas os que maioritariamente ingressam nos centros com lesões devido a tiro são os mais comuns e/ou os menos “queridos” entre a população humana, como aves de rapina de variadas espécies ou mamíferos carnívoros.

Muitas vezes, estes animais apresentam fracturas e/ou outras lesões consideradas “normais” e apenas com a realização de radiografias se detecta a presença de chumbos. As lesões são, em grande parte, bastante graves, levando a um período de recuperação complicado e moroso ou, noutros casos, à necessidade de eutanásia.


Fractura exposta na asa, provocada por tiro (Bubo bubo)

Desde Novembro de 2009, ingressaram já no RIAS 7 aves selvagens pertencentes a espécies protegidas, abatidas a tiro:

2009:
Bufo-real
Bubo bubo – Proveniente de Castro Verde – Ingresso a 23-11-2009
Bufo-real
Bubo bubo – Tavira – 11-12-2009
Águia-calçada
Aquila pennata – Beja – 22-12-2009

2010
Águia-calçada
Aquila pennata – S. Brás de Alportel – 1-01-2010
Águia-cobreira
Circaetus gallicus – Olhão – 5-01-2010
Águia-de-asa-redonda
Buteo buteo – Loulé – 15-01-2010
Águia-de-asa-redonda
Buteo buteo – Olhão – 16-01-2010


Raio-X evidenciando a localização dos chumbos – pontos brancos (Circaetus gallicus)

Raio-X evidenciando as lesões e a localização dos chumbos (Bubo bubo)

Muitas das aves que ingressam no RIAS são migratórias (como as das espécies Aquila pennata e Circaetus gallicus) o que torna o processo de recuperação ainda mais prolongado uma vez que, caso seja possível devolvê-las à natureza, é necessário aguardar a época de migração seguinte. Assim, o tempo de manutenção destes animais no centro aumenta e, consequentemente, aumenta também a probabilidade de ocorrência de problemas associados.

O facto da maioria das aves feridas ser proveniente da zona do Algarve, não significa que apenas nesta região se verifiquem estes abates mas sim que se poderá verificar aqui um elevado nº de casos de abate a tiro ou, também, uma maior eficiência na detecção e recolha dos animais feridos ou dos cadáveres.

De referir ainda que estes casos se dão maioritariamente durante os períodos venatórios (épocas de caça), podendo no entanto, menos frequentemente, ocorrer fora destes. Esta coincidência pode ser explicada por uma maior afluência de pessoas armadas no campo que poderão abater estas aves mas também por um maior nº de pessoas que poderão detectar os animais feridos.

Estes dados tornam-se extremamente importantes e preocupantes por variadas razões:

– Quantidade/frequência com que se verificam os abates ilegais (conhecimento de 7 casos em 2 meses);
– Algumas destas aves são provenientes de áreas próximas ou pertencentes a áreas protegidas;
– 3 espécies apresentam um estatuto de conservação de “Quase ameaçado” (Bufo-real, Águia-calçada e Águia-cobreira)
– 2 espécies são migratórias (Águia-calçada e Águia-cobreira), também protegidas por lei noutros países que habitam ou atravessam.

Águia-de-asa-redonda (Buteo buteo)


Águia-calçada (Aquila pennata)

Águia-cobreira (Circaetus gallicus)

Bufo-real (Bubo bubo)

Acções de educação e formação ambiental direccionadas a grupos importantes nesta temática, como os caçadores, e a toda a população em geral, que visem uma correcta e acessível explicação sobre a biologia e ecologia destas espécies e sobre a sua importância no equilíbrio dos ecossistemas e na manutenção de populações-presa mais fortes e saudáveis, poderão contribuir para uma melhoria do conhecimento e vontade de protecção destes animais. É também necessário transmitir a função dos centros de recuperação no tratamento e devolução destes animais ao seu habitat natural.

Da parte das autoridades competentes, será ainda necessário reforçar os meios de vigilância e aumentar o esforço para que seja dada a devida continuidade aos processos legais que visam condenar os responsáveis pelo abate a tiro de espécies protegidas.

Um controlo e uma vigilância apertados, associados a um crescente aumento da sensibilização e educação ambiental, poderão ser a chave para o início da resolução deste problema.

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Luisa de Matos

Educação Ambiental e Divulgação​

2018 – Licenciatura em Biologia | Instituto Superior de Agronomia da Universidade de Lisboa
2018 / 2024 – Guia e Monitora de Educação ambiental no EVOA
2019 – Pós-graduação em Ecologia e Gestão ambiental | Faculdade de Ciência da Universidade de Lisboa
2020 – Credencial de Anilhagem
2021 – Técnica de Campo em projeto de conservação de Aves Estepárias
2023 – Técnica de Falcoaria: Controlo Biológico de Fauna
2024 –  Monitora Escola da Floresta e LPN
2024 – Iniciou funções como responsável pela Sensibilização Ambiental e Divulgação do RIAS

Colaborou em diversos projetos de conservação de fauna selvagem, integrou a equipa de guias do EVOA (Espaço de Visitação e Observação de Aves do Estuário do Tejo), local onde desenvolveu outros trabalhos de monitorização da fauna. 

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