No final de Julho, deu entrada no RIAS o segundo milhafre-preto de 2020.
Mas desta vez, havia indícios de que este indivíduo foi mantido em cativeiro ilegal. Apresentava alterações comportamentais, como vocalizações anómalas e alteração da reacção natural à presença humana (geralmente indivíduos desta espécie, quando ameaçados, ficam imóveis no solo, para que se pense que estão mortos).
O Raio-x realizado mostrou graves deformidades nos ossos das asas e das patas, um sintoma compatível com osteodistrofia nutricional (patologia muito frequente em animais mantidos com alimentação inadequada durante o seu crescimento, e/ou por um longo período de tempo).
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Infelizmente, não é possível corrigir estas alterações ósseas, mas, apesar do esforço evidente que faz, o animal está atualmente a voar.
Quanto às alterações comportamentais, dada a gravidade, precisará de um longo tempo de recuperação que incluirá enriquecimento intra e inter-específico (entres espécies diferentes) e medidas dissuasoras para evitar a proximidade com o ser humano.
Nos primeiros dias deste processo foi necessário estimular o milhafre a comer sozinho, pois foi habituado a ser alimentado à mão. Uma vez concluída com sucesso esta etapa, foi possível transferir a ave para uma instalação exterior, onde já estavam dois grifos (Gyps fulvus). Aqui, terá espaço para treinar o voo, mas também irá observar o comportamento natural destas duas aves, que tal como o milhafre-preto, são necrófagas (alimentam-se de cadáveres de animais), e irá eventualmente adquirir este comportamento.
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