No final de outubro, o RIAS recebeu um vídeo de uma águia-calçada (Aquila pennata) praticamente imóvel num quintal. Sendo isto um sinal claro de que algo não estaria bem, foi feita a recolha do animal pela pessoa que a encontrou, e posterior transporte até ao RIAS pelo Instituto de Conservação da Natureza e Florestas.
Bastante debilitada e magra, apresentava uma ferida num dos dedos, e uma massa no papo, que após análise ao microscópio, revelou a presença de Trichomonas gallinae, um parasita protozoário que se multiplica no sistema digestivo superior de aves. Em fases avançadas, formam-se massas necróticas, que impedem o animal de se alimentar.
Foi então feita a estabilização da ave, deu-se início ao tratamento, e foi feita a limpeza do ferimento na pata.
Mas por vezes, e sem nada o fazer antecipar, acontecem imprevistos, e ao longo da sua “estadia” no nosso centro, a ferida no dedo acabou por sofrer complicações. Este tecido começou a ficar necrótico, fazendo a equipa suspeitar de que se tratara de um ferimento causado por eletrocussão. Para que não avançasse mais, foi decidido amputar este dedo. Apesar disto, a intervenção não pôs em causa a sua capacidade de se alimentar.
Também a massa no papo exigiu cuidados redobrados. Na tentativa de expulsá-la do corpo, o sistema da ave criou uma fístula até ao exterior (essencialmente, abriu um oríficio), necessitando de intervenção cirúrgica para limpar e suturar este ferimento.
Ao longo de semanas, a sua evolução começou a ser bem mais positiva, até não precisar de ser monitorizada constantemente, e por isso, pôde ser transferida para uma instalação exterior. Aqui foi feita fisioterapia, monitorização de comportamento e confirmação de que continuava a alimentar-se sozinha.
Depois de tudo o que já tínhamos feito por esta águia, nada mais havia a fazer, a não ser … libertá-la e dar-lhe uma nova oportunidade.