de espécies invernantes em Portugal. São aves que têm as suas áreas de
reprodução em latitudes mais a norte, que lhes proporcionam as condições
ideais de alimentação e nidificação durante a primavera e verão mas cujas
circunstâncias no inverno não permitiriam a sua sobrevivência ali. Por isso,
uma vez terminado o período reprodutor, adultos e juvenis vêm-se forçados a
realizar viagens de milhares de quilómetros até zonas de invernada que lhes
oferecem melhores probabilidades de sobrevivência durante a estação fria, ainda
que contabilizando os riscos da viagem.
Foi no final do mês de outubro que ingressaram as primeiras aves invernantes no RIAS – Centro de Recuperação e Investigação de animais Selvagens, entre as quais um tordo-comum (Turdus philomelos) que apresentava um trauma na asa esquerda. À semelhança do tratamento que é aplicado em humanos, a sua asa foi imobilizada de modo a que pudesse recuperar rápido a sua capacidade de voo. A ave realizou uma recuperação surpreendente e, em menos de três semanas, estava pronta para ser devolvida à natureza.
Anilha metálica colocada na pata direita da ave antes da devolução à natureza. |
Como é habitual, o regresso à natureza deste tordo-comum partiu da mão de uma criança. Na explicação prévia à libertação, os participantes neste Sábado Livre foram sensibilizados para as baixas probabilidades de sobrevivência desta espécie, uma vez que às inclemências climatéricas se somam as ameaças derivadas de atividades humanas, entre as quais a caça. Novembro e Dezembro são meses de forte atividade venatória, em que se encontra aberta a caça a praticamente todas as espécies cinegéticas, incluindo o tordo-comum.
Devolução à natureza do tordo-comum em frente ao RIAS. |
Neste contexto, aproveitámos para explicar o risco que as munições de chumbo na caça impõe tanto à saúde humana, como aos ecossistemas. Em setembro foi mesmo publicado um relatório pela Agência Europeia de Químicos (ECHA) que suporta uma futura atuação da comissão europeia no sentido de exigir aos estados membros medidas de proibição do uso de chumbo na caça. Embora o uso ou detenção de cartuchos carregados com projéteis de chumbo seja já proibido nas zonas húmidas, estima-se que aproximadamente 14.000 toneladas de munições de chumbo sejam espalhadas em meios terrestres na União Europeia, responsáveis pelo envenenamento anual de mais de 1 milhão de aves e cuja persistência no solo causa uma séria contaminação das reservas de água, pondo em risco todo o ecossistema e a saúde pública. Estes valores são preocupantes para um metal que pode causar problemas neurológicos e, em simultâneo com a reabilitação de animais, este é um dos objetivos principais do RIAS: a sensibilização ambiental da população, confiantes que os erros do passado serão um importante contributo para uma humanidade melhor.